DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA
Procedimentos Para Elaboração

Sumário

1. Considerações Gerais;
2. Principais Transações Que Afetam o Caixa;
2.1 - Transações Que Aumentam o Caixa (Disponível);
2.2 - Transações Que Diminuem o Caixa (Disponível);
2.3 - Transações Que Não Afetam o Caixa;
3. Apresentação do Relatório de Fluxos de Caixa;
3.1 - Métodos;
4. Dados Para Elaboração do Relatório Dos Fluxos de Caixa;
4.1 - Comentários;
5. Montagem Dos Relatórios de  Fluxos de Caixa;
5.1 - Método Direto;
5.2 - Método Indireto;
6. Conclusão.

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

Com as alterações introduzidas no inc. IV do Art. 176 e § 6º e no inc. I do Art. 188 da Lei nº 6.404/1976 pelo o Art. 1º da Lei nº 11.638/2007, a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), a partir de 01 de janeiro de 2008 passou a ser obrigatório para as companhias de capital aberto (Deliberação CVM nº 547/2008) e opcional para as companhias com capital fechado. Caso estas últimas registrem, na data de seu balanço, patrimônio líquido igual ou superior a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais), também ficarão obrigadas a elaborar a DFC.

Para as Pequenas e Médias Empresas, a DFC também é de elaboração obrigatória, conforme item 3.17 da NBC TG 1000 (R1). Portanto, independentemente do tipo societário adotado, as entidades devem apresentar a DFC, pelo menos anualmente, por ocasião da elaboração das demonstrações financeiras.

As empresas devem elaborar a demonstração dos fluxos de caixa de acordo com os requisitos da NBC TG 03 (R3), NBC TG 26 (R5), e a Resolução CFC nº 1.185/2009, e devem apresentá-la como parte integrante das suas demonstrações contábeis apresentadas ao final de cada período.

De forma condensada, esta demonstração indica a origem de todo o dinheiro que entrou no caixa em determinado período e, ainda, o Resultado dos Fluxos Financeiros.

Assim como a Demonstração de Resultados de Exercícios, a DFC é uma demonstração dinâmica e também está contida no balanço patrimonial.

A Demonstração do Fluxo de Caixa irá indicar quais foram as Saidas e entradas de dinheiro no caixa durante o período e o resultado desse fluxo.

Observação: a matéria foi publicada no boletim de acordo com a legislação vigente à época de sua publicação, estando sujeita a sofrer alterações posteriores a publicação em nosso site.

2. PRINCIPAIS TRANSAÇÕES QUE AFETAM O CAIXA

As principais transações que afetam o caixa estão descritas nos subitens 2.1 a 2.3.

2.1 - Transações Que Aumentam o Caixa (Disponível)

Aumentam o Caixa:

a) integralização do Capital pelos proprietários em dinheiro;

b) empréstimos bancários e financiamento oriundos das instituições financeiras;

c) vendas de Ativos Permanentes;

d) outras entradas, tais como juros recebidos, indenizações de seguros, etc.

2.2 - Transações Que Diminuem o Caixa (Disponível)

Diminuem o Caixa:

a) pagamento de dividendos aos acionistas;

b) pagamento de juros, correção monetária de dívidas;

c) aquisicão de itens do Ativo Permanente;

d) compra à vista e pagamento de fornecedores;

e) pagamentos de despesas/custo, contas a pagar e outros.

2.3 - Transações Que Não Afetam o Caixa

Dentre as transações realizadas pela empresa, algumas não afetam o caixa, tais como: depreciação, amortização e exaustão, provisão para devedores duvidosos, correção monetária de balanço, acréscimo ou diminuições de investimentos avaliados pelo método de equivalência patrimonial, sem significar que houve vendas ou novas aquisições.

3. APRESENTAÇÃO DO RELATÓRIO DE FLUXOS DE CAIXA

Na linha das tendências internacionais, a demonstração dos fluxos de caixa pode ser incorporada às demonstrações contábeis tradicionalmente publicadas pelas empresas. Basicamente, o relatório de fluxo de caixa deve ser segmentado em 3 (três) grandes áreas:

a) Atividades Operacionais:

As Atividades Operacionais são explicadas pelas receitas e gastos decorrentes da industrialização, comercialização ou prestação de serviços da empresa. Estas atividades têm ligação com o capital circulante líquido da empresa;

b) Atividades de Investimento:

As Atividades de Investimento são os gastos efetuados no Realizável a Longo Prazo ou no Ativo Permanente, bem como as entradas por venda de ativos imobilizados; e

c) Atividades de Financiamento:

As Atividades de Financiamento são os recursos obtidos do Exigível a Longo Prazo e do Patrimônio Líquido. Devem nela figurar os empréstimos e financiamentos de curto prazo. As saídas correspondem à amortização destas dívidas e os valores pagos aos acionistas a título de dividendos e distribuição de lucros.

3.1 - Métodos

A DFC poderá ser elaborada por 2 (dois) métodos:

a) Método Direto;

b) Método Indireto.

Pelo Método Direto a empresa fará o confronto direto entre as contas da Demonstração de Resultado e as contas do Balanço Patrimonial, detalhando as entradas e saídas de caixa.

O Método Indireto é aquele no qual os recursos provenientes das atividades operacionais são demonstrados a partir do lucro líquido, ajustado pelos itens considerados nas contas de resultado, porém sem afetar o caixa da empresa.

4. DADOS PARA ELABORAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA

A título ilustrativo, suponha-se as Demonstrações Financeiras da Cia. “X”, admitindo-se para fins de simplificação uma economia com inflação 0 (zero), portanto, sem o instituto da correção monetária.

CIA. “X”

BALANÇOS PATRIMONIAIS   ENCERRADOS

31.12.18

31.12.19

ATIVO
CIRCULANTE

650.000

800.000

Caixa

200.000

250.000

Contas a Receber

450.000

550.000

ATIVO NÃO CIRCULANTE

Imobilizado

4.800.000

4.200.000

Valor Original

6.000.000

6.600.000

( - ) Depreciações Acumuladas

1.200.000

2.400.000

TOTAL

5.450.000

5.000.000

PASSIVO

CAPITAIS DE TERCEIROS

3.500.000

3.300.000

Passivo Circulante

Fornecedores

500.000

600.000

Exigível a Longo Prazo

3.000.000

2.700.000

(Financiamento)

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

1.950.000

1.700.000

Capital Social

1.000.000

1.000.000

Lucros Acumulados

950.000

700.000

TOTAL

5.450.000

5.000.000

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO
 EM 31.12.18

DEMONSTRAÇÃO DE LUCROS OU
PREJUÍZOS ACUMULADOS EM 31.12.19

Receita

5.650.000

 Lucros Acumulados em 31.12.18

950.000

( - ) Custos dos Serviços

3.600.000

 ( - ) Prejuízo no  Exercício

50.000

Lucro Bruto

2.050.000

 Dividendos

200.000

( - ) Despesas

900.000

 Lucros Acumulados em 31.12.19

700.000

( - ) Depreciação

1.200.000

-

-

Prejuízo no Exercício

50.000

-

-

DEMONSTRAÇÃO DE ORIGEM E APLICAÇÃO DOS RECURSOS

A) ORIGEM DOS RECURSOS DAS OPERAÇÕES SOCIAIS

PARCIAL

TOTAL

%

Prejuízo do Exercício

( 50.000 )

+ Depreciação

1.200.000

1.150.000

Total das Origens

1.150.000

100,0

B) APLICAÇÃO

Aquisição de imobilizado

600.000

52,1

Redução do Exigível a Longo Prazo

300.000

26,1

Dividendos

200.000

17,4

Subtotal

1.100.000

95,6

C) AUMENTO DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO

50.000

4,4

Demonstração por:

X0

X1

Variação

ATIVO CIRCULANTE

650.000

800.000

- 150.000

PASSIVO CIRCULANTE

500.000

600.000

- 100.000

CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO

150.000

200.000

- 50.000

4.1 - Comentários

a) Se houve uma venda de 5.650.000,00 e um aumento de contas a receber de 100.000,00, isso significa que as vendas que efetivamente ingressaram no caixa foram de 5.550.000,00;

b) Se o custo dos serviços prestados foi de 3.600.000,00 e dívida com fornecedores aumentou 100.000,00, isso significa que a empresa pagou a fornecedores 3.500.000,00;

c) Quanto às despesas operacionais, já que não há saldos iniciais e finais em contas a pagar por conta desses gastos, isso significa que elas foram pagas. Logo, o desembolso foi de 900.000,00;

d) A conta de financiamentos era de 3.000.000,00 em 2018 e reduziu-se para 2.700.000,00 em 2019, significando que a empresa pagou 300.000,00;

e) Quanto aos dividendos, não há saldo inicial e final da dívida, logo a empresa efetuou o pagamento de 200.000,00;

f) O imobilizado aumentou em 600.000,00 e não há dívidas para esta aquisição, significando que a empresa desembolsou esse valor.

5. MONTAGEM DOS relatórios DE FLUXOS DE CAIXA

5.1 - Método Direto

Agora é só uma questão de ordenamento das entradas e saídas de caixa, conforme a estrutura internacional pelo Método Direto. Para os ingressos de recursos, considerar os valores positivos, para as saídas, negativos.

I - Atividade Operacional

Valor

%

Vendas recebidas

5.550.000

100,00

Pagamento de fornecedores

(3.500.000)

(63,10)

Pagamento de despesas

(900.000)

(16,20)

Saldo antes da  Atividade de Investimento

1.150.000

20,70

II - Atividade de Investimento

(600.000)

(10,81)

Pagamento de Imobilizado

(600.000)

(10,81)

Saldo antes da Atividade de Financiamento

550.000

9,89

III - Atividade de Financiamento

(500.00)

(9,00)

Pagamento de Empréstimos

(300.000)

(5,40)

Pagamento de dividendos

(200.000)

(3,60)

Aumento do Disponível

50.000

0,89

Saldo Inicial 2018

200.000

3,60

Saldo Final 2019

250.000

4,49

5.2 - Método Indireto

O Método Indireto é feito com base nos ajustes do lucro líquido do exercício que se encontra na Demonstração de Resultado.

Primeiro passo: Os itens operacionais que não usaram dinheiro, mas foram deduzidos como despesas devem ser acrescentados de volta ao lucro do exercício, como, por exemplo, a depreciação.

Segundo passo: As alterações ocorridas no Capital Circulante Líquido (AC e PC) também devem ser ajustadas, porque estão relacionadas com as atividades operacionais.

Quando há um aumento nos ativos circulantes (estoques, contas a receber), o raciocínio é que foi usado dinheiro do caixa, para comprar estoques ou conceder crédito a clientes. De maneira inversa, se os estoques ou clientes diminuírem, indica que a empresa está tendo receita ou recebimento de clientes. Daí, conclui-se que os aumentos do AC usam caixa e as diminuições produzem caixa.

Os aumentos do Passivo Circulante têm o efeito oposto sobre o caixa. Quando os fornecedores concedem créditos, o caixa é liberado para outras atividades. Quando a empresa diminui a conta de fornecedores, é que ela está usando caixa para solver compromissos. Daí, conclui-se que os aumentos do Passivo Circulante produzem disponibilidades de caixa e as diminuições usam as disponibilidades de caixa.

Todos estes ajustes fazem parte das atividades operacionais. As demais atividades de investimento e de financiamento serão elaboradas nos mesmos moldes do Método Direto, usando-se para tanto os dados do Balanço Patrimonial.

FLUXO DE CAIXA PELO MÉTODO INDIRETO

I - Atividade Operacional

Valor    /   %

Prejuízo Líquido do Exercício

(50.000)

+ Depreciação

1.200.000

- Aumento do Contas a Receber

(100.000)

+ Aumento do Contas a Pagar

100.000

Saldo antes das Atividades de Investimento

1.150.000

100,00

II - Atividade de Investimento

(600.000)

(52,17)

Pagamento de Imobilizado

(600.000)

(52,17)

Saldo antes da Atividade de Financiamento

550.000

47,83

III - Atividade de Financiamento

(500.000)

(43,48)

Pagamento de Empréstimos

(300.000)

(26,09)

Pagamento de Dividendos

(200.000)

(17,39)

Aumento do Disponível

50.000

4,35

Saldo Inicial 06

200.000

17,39

Saldo Final 06

250.000

21,74

6. CONCLUSÃO

A demonstração é uma ferramenta que permite ao administrador financeiro melhorar o planejamento financeiro da empresa, conseguindo, com isso, que o Caixa fique livre de excessos e que a empresa conheça antecipadamente as suas necessidades de dinheiro.

Dessa maneira, deverá sempre ser comparada com o efetivo desempenho de Caixa da empresa para poder alcançar toda a sua utilidade nas previsões orçamentárias e de investimentos, assim como ser aperfeiçoada para tornar-se cada vez mais objetiva e próxima da realidade.

Fundamentos Legais: Os citados no texto.