ABC
Alguns Conceitos e Procedimentos Fundamentais do Sistema de Custeio
Sumário
1. INTRODUÇÃO
Com uma aceitação cada vez maior entre as empresas que já se conscientizaram da necessidade de imediata resposta aos novos desafios trazidos pelas mudanças ocorridas no mundo dos negócios em razão da crescente globalização das transações comerciais, o sistema de custeio baseado em atividades tem se caracterizado como um procedimento administrativo de grande valia.
Os profissionais de custos procuraram, durante muito tempo, um sistema que lhes permitisse, entre outras coisas, um melhor acompanhamento dos gastos empresariais e também a superação das distorções oriundas dos métodos tradicionais de custeio voltados para finalidades de balanço.
Nessa busca apresentou-se a eles o sistema de custeio ABC como uma técnica indispensável a empresas que produzem uma variedade significativa de bens e/ou serviços, destinados a uma clientela igualmente diversificada.
2. DEFINIÇÃO
O Activity Based Costing (ABC) é um sistema de custeio baseado na análise das atividades significativas desenvolvidas na empresa.
O sistema ABC deve ser utilizado como um complemento do sistema tradicional de custos. A sua adoção não representa a substituição do sistema contábil de custos atualmente em uso na maioria das empresas.
Dessa forma, a estrutura contábil convencional deverá ser utilizada com as adaptações ou detalhamentos convenientes ao melhor funcionamento de um sistema baseado em atividades.
O sistema ABC atenta principalmente para os gastos indiretos, uma vez que eles representam cada vez mais o grande item dos gastos de produção e os custos primários (mão-de-obra e material diretos), diretamente atribuíveis aos bens e serviços produzidos têm os problemas de custeio satisfatoriamente contornados pelos sistemas de custos convencionais.
3. OBJETIVOS
O sistema de custeio ABC busca uma atribuição mais criteriosa de gastos indiretos ao bem ou serviço produzido na empresa.
Essa atribuição mais criteriosa permite:
a) um controle mais efetivo dos gastos da empresa;
b) um melhor suporte para as decisões gerenciais.
4. COMO É EFETUADO O CONTROLE DOS GASTOS
Nos sistemas de custo em uso pela maioria das empresas são os bens e serviços produzidos pelas empresas que consomem recursos e, assim, geram custos.
Para controlar esses gastos os sistemas de custeio consideram que os bens e serviços produzidos são a fonte da geração de custos e adotam uma metodologia em que os gastos indiretos acumulados nos departamentos produtivos (incluindo os gastos recebidos dos departamentos de apoio) são rateados entre os bens e serviços produzidos.
Para o sistema de custeio ABC, os recursos das empresas são consumidos pelas atividades nelas desenvolvidas e os produtos, por sua vez, consomem essas atividades.
5. COMO É FEITA A ATRIBUIÇÃO DE GASTOS
Primeiramente executamos uma operação denominada custeio de atividades, na qual os gastos correspondentes aos recursos consumidos são atribuídos às diversas atividades identificadas como significativas.
Após a atribuição dos custos às atividades executamos o chamado custeio de objetos, no qual os custos das atividades apurados na primeira fase são atribuídos aos produtos, serviços, clientes ou qualquer outro "objeto" de que se pretenda apurar os custos.
6. A TÉCNICA UTILIZADA NO SISTEMA DE CUSTEIO ABC
O sistema de custeio ABC é um desdobramento da técnica de controle de custos por meio da análise de processos e por isso requer uma adequada análise das atividades que constituem esses processos.
Definimos um processo como uma rede de atividades interligadas pelos "produtos" que elas trocam entre si.
Se uma atividade gera um produto (que pode ser um bem, um serviço, uma informação, etc.), que é utilizado como ponto de partida por uma outra atividade subseqüente, podemos dizer que elas constituem um processo.
A utilização da análise de processos provoca uma alteração na técnica de controle dos gastos empresariais: a mudança da técnica do controle por departamento para a técnica de controle por processo.
Essa mudança é efetuada para refletir o grande relacionamento existente entre os diversos departamentos de uma empresa tornando claro para todos que as decisões tomadas ou custos incorridos em qualquer departamento afetam o desempenho de todos os outros.
7. ONDE PODE SER APLICADO O SISTEMA ABC
O sistema de custeio com base em atividades é aplicável a qualquer empresa, de qualquer porte ou natureza.
Devido à sua maior complexidade em comparação com os sistemas de custeios tradicionais, o ABC pode não ser conveniente a todas as empresas, sendo a sua aplicação particularmente recomendável às empresas:
a) cujos custos indiretos representam parcelas significativas dos seus custos totais;
b) que produzam, em um mesmo estabelecimento, produtos e/ou serviços altamente diversificados no que se refere aos volumes de produção ou ao processo produtivo;
c) que trabalham com clientela diversificada em termos de volume de encomendas, de especificações especiais, de serviços adicionais, etc.
8. SEPARAÇÃO DAS OPERAÇÕES NA EMPRESA
As operações desenvolvidas em uma empresa podem ser classificadas como: tarefas, atividades, processos e funções.
Uma função é constituída por um grupo de atividades que têm uma finalidade comum como objetivo.
Um processo é um grupo de atividades que trocam "produtos" entre si, ou seja, aquilo que for gerado em uma atividade deverá ser objeto de utilização pela atividade subseqüente.
Uma atividade é formada por um conjunto de tarefas que são consideradas como o menor segmento das operações empresariais.
Se a empresa tiver necessidade de uma maior profundidade de análise, as tarefas poderão ser subdivididas em subtarefas.
9. ATIVIDADES
No sistema ABC, definimos atividade como sendo uma utilização coordenada de recursos (mão-de-obra, materiais, tecnologia e ambiente) com o objetivo de produzir um determinado bem ou serviço.
Classificamos inicialmente as atividades em duas categorias:
a) atividades primárias - aquelas diretamente relacionadas com as finalidades de uma determinada unidade da empresa;
b) atividades secundárias - aquelas que servem de apoio a uma ou mais atividades primárias. São exemplos de atividades secundárias as atividades de treinamento, de supervisão, de secretaria, etc.
O ponto de partida de um sistema de custeio baseado em atividades é a identificação das atividades significativas desenvolvidas na empresa.
São significativas as atividades que representam valores expressivos em termos de custos.
Com a análise das atividades, conseguimos decompor os processos produtivos e qualquer tarefa em seus elementos administráveis, permitindo à direção uma visão clara de como estão sendo utilizados os recursos da empresa.
O resultado de uma atividade destina-se sempre ao atendimento da necessidade de um cliente. Consideramos como cliente, não apenas o consumidor final de um produto ou de um serviço, mas qualquer usuário (interno ou externo à empresa) do resultado gerado por essa atividade.
10. RATEIO DE GASTOS
Critérios de rateio baseados em volumes de produção são ocasionalmente utilizados no sistema ABC.
Entretanto, o rateio de gastos deve ser considerado a última das alternativas para a atribuição de gastos indiretos a atividades.
Apenas o que não for diretamente atribuível a uma atividade ou a um produto em função de uma relação natural e evidente (como, por exemplo, o custo primário dos produtos industriais) ou o que não puder ser atribuído de acordo com relação pesquisada entre o gasto e a atividade objeto de custeio é que poderá ser rateado.
No sistema ABC utilizamos o rastreamento de gastos para evitar a atribuição de gastos por meio de rateio.
Rastrear gastos significa pesquisar relações e identificar proporções entre gastos indiretos e atividades, e entre essas últimas e os diversos "objetos" de custeio.
No sistema ABC temos a seguinte hierarquia entre os procedimentos de distribuição de gastos indiretos:
a) atribuição direta - quando existir a possibilidade de identificar uma relação direta e natural entre o consumo de um recurso e uma determinada atividade ou entre o consumo de uma atividade e um determinado "objeto" de custeio;
b) atribuição rastreada - sempre que, não sendo possível a atribuição direta, seja, pelo menos, descoberta uma associação causal pesquisada do tipo recurso/atividade ou do tipo atividade "objeto";
c) atribuição rateada - utilizada apenas nos casos em que não for possível atribuir diretamente um gasto a uma atividade ou objeto.
O sistema de custeio baseado em atividade utiliza o rateio não só para atribuir gastos não rastreáveis a atividades e a "objetos", mas também para distribuição dos gastos de atividades secundárias a atividades primárias.