ESTOQUES
Critério de Avaliação

 Sumário

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Para elaboração de balanços e apuração de resultados são necessários o levantamento e a avaliação dos estoques de mercadorias para revenda, matérias-primas, materiais de embalagem, produtos acabados e produtos em elaboração da pessoa jurídica.

De acordo com o item II do artigo 183 da Lei das S/A, "os direitos que tiverem por objeto mercadoria e produtos do comércio da companhia, assim como matéria-prima, produtos em fabricação e bens em almoxarifado, serão avaliados pelo custo de aquisição ou produção, deduzido da provisão para ajustá-lo ao valor de mercado quando este for inferior".

A apuração e determinação dos custos dos estoques é um dos aspectos mais complexos da área contábil, não só pelo fato de ser um ativo significativo mas pelo reflexo que produz na apuração dos resultados.

 2. COMPOSIÇÃO DO CUSTO DE AQUISIÇÃO

O custo de mercadorias para revenda, assim como o das matérias-primas e outros bens de produção compreende, além do valor pago ao fornecedor, o valor correspondente ao transporte (fretes), seguro e dos tributos devidos na aquisição ou na importação, excluídos os impostos recuperáveis através de crédito na escrita fiscal.

As mercadorias ou bens importados têm seu custo avaliado por todos os valores dispendidos até a data da entrada no estabelecimento importador, tais como taxas bancárias, gastos com desembaraço aduaneiro, honorários de despachante, etc.

 3. AVALIAÇÃO DE MATÉRIAS-PRIMAS E MERCADORIAS

Como regra geral, a pessoa jurídica deverá promover ao final de cada exercício, o levantamento e avaliação dos estoques, adotando-se os seguintes critérios, conforme o caso:

a) pelo custo médio ponderado;

b) pelo custo dos bens adquiridos ou produzidos mais recentemente (Peps - primeiro a entrar, primeiro a sair);

c) pelo preço de venda, subtraída à margem de lucro;

d) pelo custo da última mercadoria que entrou - Ueps - último a entrar, primeiro a sair.

Observe-se que não é permitida, pela legislação do Imposto de Renda, a avaliação dos estoques pelo método Ueps - último a entrar, primeiro a sair.

3.1 - Custo Médio Ponderado

Este sistema consiste em avaliar o estoque pelo custo médio de aquisição, apurado em cada entrada de mercadorias ou matéria-prima, ponderado pelas quantidades adicionadas e pelas anteriormente existentes.

Demonstramos, na ficha de estoque abaixo, o método de avaliação pelo custo médio:

Data

Histórico

ENTRADAS

SAÍDAS

SALDO

Quant.

Custo
Histórico
R$

Total
R$

Quant.

Custo
Médio
R$

Total
R$

Quant.

Custo Médio
R$

Total
R$

05.06

Compra

20

50,00

1.000,00

-

-

-

20

50,00

1.000,00

12.06

Compra

20

55,00

1.100,00

-

-

-

40

52,50

2.100,00

18.06

Venda

-

-

-

10

52,50

525,00

30

52,50

1.575,00

28.06

Compra

20

100,00

2.000,00

-

-

-

50

71,50

3.575,00

30.06

Venda

-

-

-

30

71,50

2.145,00

20

71,50

1.430,00

 

Totais

60

-

4.100,00

40

-

2.670,00

20

71,50

1.430,00

De acordo com o PN CST nº 06/79, o Fisco admite que as saídas sejam registradas unicamente no final do mês, desde que avaliadas ao preço médio, sem considerar a baixa para fins de cálculo daquele custo médio.

Assim, com base nos dados da ficha de estoque anterior, teremos:

Data

Histórico

ENTRADAS

SAÍDAS

SALDOS

Quant.

Custo
Unitário
R$

Total
R$

Quant.

Custo Unitário
R$

Total
R$

Quant.

Custo Unitário
R$

Total
R$

05.06

Compra

20

50,00

1.000,00

-

-

-

20

50,00

1.000,00

12.06

Compra

20

55,00

1.100,00

-

-

-

40

52,50

2.100,00

28.06

Compra

20

100,00

2.000,00

-

-

-

60

68,34

4.100,00

30.06

Vendas

no Mês

-

-

-

40

68,34

2.733,60

20

68,34

1.366,40

 

Totais

60

 

4.100,00

40

 

2.733,60

20

68,34

1.366,40

3.2 - Peps - Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair

Por este método, as saídas do estoque são avaliadas pelos respectivos custos de aquisição, pela ordem de entrada, resultando que o estoque ficará sempre avaliado aos custos das aquisições mais recentes (últimas compras).

Neste caso, a ficha de estoque mostraria os seguintes valores:

Data

Histórico

ENTRADAS

SAÍDAS

SALDOS

Quant.

Custo
Unitário
R$

Total
R$

Quant.

Custo Unitário
R$

Total
R$

Quant.

Custo Unitário
R$

Total
R$

05.06

Compra

20

50,00

1.000,00

-

-

-

20

50,00

1.000,00

12.06

Compra

20

55,00

1.100,00

-

-

-

20
20

50,00
55,00

1.000,00
1.100,00

40

2.100,00

18.06

Venda

     

10

50,00

500,00

10
20

50,00
55,00

500,00
1.100,00

30

1.600,00

28.06

Compra

20

100,00

2.000,00

     

10
20
20

50,00
55,00
100,00

500,00
1.100,00
2.000,00

50

3.600,00

30.06

Venda

     

10
20

50,00
55,00

500,00
1.100,00

20

100,00

2.000,00

30

1.600,00

3.3 - Preço de Venda, Subtraída a Margem de Lucro

Pode-se, ainda que se proceda a avaliação dos estoques de mercadorias a preço de venda, subtraída a margem de lucro, embora entendamos não ser o melhor critério, mas é também aceito pela legislação fiscal.

Tendo em vista que a margem de lucro corresponde à diferença entre o preço de venda e o custo de aquisição ou produção dos bens, não pode o contribuinte atribuir uma margem de lucro qualquer para avaliação dos estoques, uma vez que tal procedimento pode implicar numa superavaliação ou subavaliação dos valores e, conseqüentemente, na majoração dos resultados, ficando sujeito a possíveis questionamentos fiscais.

3.4 - Quadro Comparativo Das Avaliações Apresentadas

De conformidade com os critérios de avaliação de estoque apresentados e uma receita líquida de vendas de R$ 10.000,00, podemos fazer as seguintes comparações:

CUSTO MÉDIO

  SAÍDAS REGISTRADAS DIARIAMENTE SAÍDAS REGISTRADAS NO FINAL DO MÊS PEPS
RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS 10.000,00 10.000,00 10.000,00
(-) CUSTO DAS MERCADORIAS VENDIDAS 2.670,00 2.733,60 2.100,00
(=) LUCRO BRUTO 7.330,00 7.266,40 7.900,00
ESTOQUE FINAL 1.430,00 1.366,40 2.000,00

4. REGISTRO PERMANENTE DE ESTOQUES

No caso de controle permanente de estoques, deverão ser observados os seguintes procedimentos:

4.1 - Critérios a Observar

O registro permanente de estoques pode ser feito em livros, fichas ou em formulários contínuos emitidos por processamento de dados, sendo que os modelos são de livre escolha da empresa e cujos saldos serão transpostos para o livro Registro de Inventário.

Os registros deverão ser feitos em ordem cronológica, sendo aberta uma ficha para cada espécie de bem a controlar.

O custo das mercadorias vendidas ou das matérias-primas utilizadas na produção deverá corresponder ao total dos valores lançados durante o período na coluna "saídas".

I - Devoluções

Ocorrendo devoluções, tanto de compras como de vendas efetuadas, deverão ser adotados os seguintes procedimentos:

a) no caso de devolução de compras, serão registradas na ficha de estoque na coluna "entradas" de forma negativa (entre parênteses), pelo mesmo valor lançado por ocasião da aquisição;

b) no caso de devolução de vendas, serão registrados na ficha de estoque na coluna "saídas", também de forma negativa, pelo mesmo valor da saída correspondente.

Observe-se que o lançamento da devolução implica em ajuste do custo médio, uma vez que este fato altera o saldo físico e monetário do estoque.

Os gastos relativos às devoluções de compras ou vendas, tais como fretes, seguro, etc., serão tratados como despesas operacionais, não sendo agregados ao custo.

II - Contagem Física para Ajuste dos Saldos

A empresa que possuir registro permanente de estoques só estará obrigada a ajustar os saldos contábeis, pelo confronto com a contagem física, ao final do exercício.

5. EMPRESA QUE NÃO MANTÉM REGISTRO PERMANENTE DE ESTOQUES

A pessoa jurídica que não possuir registro permanente de estoques deverá promover, ao final de cada exercício, o levantamento físico dos seus estoques, sendo que os estoques encontrados serão avaliados pelo preço praticado nas compras mais recentes, constantes das Notas Fiscais de aquisição, excluídos os impostos quando recuperáveis (IPI/ICMS).

5.1. Custo Das Mercadorias Vendidas - Cmv

A apuração do custo das mercadorias vendidas está diretamente relacionada aos estoques da empresa, pois representa a baixa efetuada nas contas dos estoques por vendas realizadas no período.

Quando o controle de estoques é feito mediante contagem física, o custo das mercadorias vendidas ou das matérias-primas utilizadas no processo de produção é obtido através da seguinte operação:

CMV = EI + C - EF (custo das mercadorias vendidas = estoque inicial mais compras do período, menos estoque final)

Onde:

CMV = Custo das Mercadorias Vendidas
EI = Estoque Inicial
C = Compras
EF = Estoque Final (inventário final)

5.2 - Resultado Com Mercadorias - RCM

O resultado com mercadorias surge do confronto entre as vendas efetuadas e o custo das mercadorias vendidas.

Se o valor das vendas for maior do que o CMV, pode-se dizer que houve um lucro bruto.

Se o valor das vendas for menor do que o CMV, pode-se dizer que houve um prejuízo com mercadorias.

O resultado com mercadorias pode ser apurado através da equação:

RCM = V - CMV

Onde:

RCM = Resultado com Mercadorias
V = Vendas
CMV = Custo das Mercadorias Vendidas

 5.3 - Caso Prático

Consideraremos os seguintes dados para calcular o resultado com mercadorias no período de 01.04.99 a 30.06.99.

Estoque em 01.04.99 R$ 1.600,00
Compras para revenda R$ 1.300,00
Vendas de mercadorias R$ 3.840,00
Compras devolvidas R$ 300,00
PIS/Cofins R$ 930,00
Fretes R$ 250,00
Vendas canceladas R$ 100,00
Estoque inventariado (30.06.99) R$ 1.270,00

ICMS sobre compras e vendas - alíquota de 17%.

Assim temos:

Compras totais R$ 1.300,00
(-) ICMS sobre compras R$ 170,00
(-) compras devolvidas R$ 300,00
(+) fretes R$ 250,00
(=) Compras Líquidas R$ 1.080,00

Nota: ICMS sobre compras: 17% de R$ 1.300,00 = R$ 221,00

ICMS compras devolvidas: 17% de R$ 300,00 = R$ 51,00

Valor líquido da conta ICMS sobre compras R$ 170,00

Vendas totais R$ 3.840,00
(-) ICMS sobre vendas R$ 635,80
(-) Vendas canceladas R$ 100,00
(-) PIS/Cofins R$ 930,00
(=) Vendas Líquidas R$ 2.174,20

Nota: ICMS sobre vendas: 17% de R$ 3.840,00 = R$ 652,80

ICMS sobre devoluções: 17% de R$ 100,00 = R$ 17,00

Valor líquido da conta de ICMS sobre vendas R$ 635,80

Substituindo nas fórmulas teremos:

CMV = EI + C - EF
CMV = 1.600,00 + 1.080,00 - 1.270,00
CMV = 1.410,00
RCM = V - CMV
RCM = 2.174,20 - 1.410,00
RCM = 764,20

 6. AVALIAÇÃO DOS PRODUTOS EM PROCESSO E ACABADOS

6.1 - Custeio Por Absorção

O custo dos estoques dos produtos em processo e acabados deve incluir todos os custos diretos como matéria-prima, mão-de-obras e outros, e os indiretos como gastos gerais de fabricação, necessários para colocação do produto em condições de venda.

No custeio por absorção, os custos de produção incorridos, diretos ou indiretos são atribuídos ao produto final, observando-se que:

a) os custos relativos a matéria-prima e materiais diretos, serão apropriados com base nos custos apurados da forma mencionado no item 3.

b) os custos relativos a mão-de-obra correspondem aos salários e encargos do pessoal que trabalha diretamente na fabricação do produto;

c) os gastos gerais de fabricação correspondem aos demais custos incorridos na produção tais como: energia, seguros, depreciação, almoxarifado, supervisão, etc).

 6.2 - Custo Padrão

Esse método de custeio, geralmente utilizado por grandes empresas, com operações de grande volume ou com linhas de montagem que envolvem muitas peças, consiste em que o custo de cada produto é predeterminado, antes da produção, com base nas especificações dos produtos, componentes do custo e condições de produção. Dessa forma, os estoques são apurados com base em custos unitários padrão e comparado com os custos de reais apurados, registrando-se as diferenças em contas de variação.

A legislação fiscal aceita que a empresa apure custos com base em padrões preestabelecidos (custo padrão ou "standard"), como instrumento de controle de gestão, desde que observado o seguinte: (PN CST nº 06/79):

a) que o padrão preestabelecido incorpore todos os elementos constitutivos do custeio por absorção;

b) as variações de custos (negativas e positivas) sejam distribuídas aos produtos de modo que a avaliação final dos estoques não discrepe da que seria obtida com o emprego do custo real;

c) as variações de custos sejam identificadas em nível de item final de estoque, de forma a permitir a verificação do critério de neutralidade do sistema adotado de custos sobre a valoração dos inventários.

6.3 - Quebras e Perdas de Estoque

É normal no processo produtivo ocorrer quebras e perdas de estoque como é o caso de aparas e rebarbas de matéria-prima, evaporação de produtos químicos, etc. Nesse caso, os valores relativos a quebras e perdas, serão agregados ao custo normal de produção, sempre que normais e relativas ao processo produtivo, e serão lançados como despesas ao resultado do período, se forem esporádicas e anormais.

6.4 - Sucatas e Subprodutos

As sucatas e os subprodutos são as sobras, pedaços, resíduos, aparas e outros materiais derivados da atividade industrial que têm como característica nascerem do processo da produção. A diferença entre um e outro reside no fato de que a sucata não tem um mercado garantido de comercialização e os preços bastante incertos enquanto os subprodutos têm condições de demanda e de preços bons.

Contabilmente, os custos incorridos nos bens sucateados devem ser agregados aos custos de fabricação dos produtos bons aproveitados. No caso de sucatas que não sejam relativas ao processo de produção, os seus custos devem ser retirados do custo de produção e lançados como perdas no resultado do período. Os estoques de sucata a serem comercializados existirão fisicamente, devendo ser controlado pela empresa, no entanto não terá valor contábil. Por ocasião da comercialização da sucata, o valor da receita será reconhecido nesse momento no resultado no subgrupo "outras receitas operacionais".

No tocante aos subprodutos, por possuírem mercado estável e preço de venda previsível, tais itens devem ser avaliados ao valor líquido de realização e considerado como redução do custo de produção do período em que surgiram.

Por valor líquido de realização de um subproduto deve ser entendido como o valor bruto menos os impostos incidentes sobre essa venda, menos as despesas de comercialização como comissões, taxas de entrega, etc.

Quando a empresa comercializar os subprodutos, terá um valor efetivo de venda e atribuirá como redutor dessas receitas o valor dos estoques dos subprodutos e a diferença líquida será registrada como outras receitas/despesas operacionais, conforme o caso.

 7. ESTOQUE DE PRODUTOS RURAIS

Os estoques de mercadorias fungíveis destinadas à venda poderão ser avaliadas pelo valor de mercado, quando esse for o costume mercantil aceito pela técnica contábil, § 4º do art. 183 da Lei das S/A.

Assim, os estoques de produtos agrícolas, animais e extrativos poderão ser avaliados aos preços correntes de mercado, conforme as práticas usuais em cada tipo de atividade.

Por preço corrente de mercado entende-se que seria o valor pelo qual tais estoques podem ser vendidos a terceiros na época do balanço. Nesse caso a diferença apurada entre o valor de mercado e o valor contábil é acrescida ou diminuída do valor dos estoques, tendo como contrapartida uma conta de resultado.

A definição de valor de mercado pode ser encontrada em revistas especializadas, bolsa de mercadorias, etc. A pauta de valores fiscais serve de parâmetro para avaliação ao preço de mercado.

 8. COMPRAS COM PREÇO A FIXAR

De acordo com o Manual "Normas e Práticas Contábeis no Brasil - Fipecafi", os estoques relativos a compras com preço a fixar, geralmente produtos agrícolas, são contabilizados pelo custo estimado, até que seja fixado o preço efetivo, quando é efetuado o ajuste nas contas Estoques e/ou Custo das Mercadorias/Produtos Vendidos, referente à parcela já baixada do estoque.   

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